sexta-feira, 6 de maio de 2011

Analise a obra de Aristófanes estudada de acordo com o contexto histórico dos séculos V e IV a.C., enfatizando os elementos constitutivos do debate político presente nas cidades-estado gregas do período Clássico, tomando como exemplo o caso de Atenas.

Assembléia das Mulheres (em que Aristófanes satiriza um Estado imaginário administrado pelas mulheres), trabalha especificamente o contexto dos atenienses, tal como a condição da mulher na Grécia Clássica (sécs. V e IV a.C.), faz-se uma análise da democracia ateniense, buscando mostrar as características desse regime político e suas limitações.
A insatisfação ...... fez surgir uma revolta, liderada por Clístenes, a qual inaugura o período democrático.Tal regime político embasava-se nos princípios da isonomia, igualdade de todos perante a lei; isotimia, liberdade de todos de participar dos cargos públicos, e isagoria, igualdade de todos quanto ao direito de pronunciar-se nas assembléias e debater acerca dos negócios do governo. No entanto, é importante ressaltar que, a palavra “todos” não corresponde a todos os habitantes da polis, mas apenas aos cidadãos. Isso porque mulheres, escravos e estrangeiros estavam excluídos do conceito de cidadania, o qual se restringia a homens adultos que tivessem nascido na polis e fossem filhos de pais e mães atenienses. Eles se reuniam em assembléias, no Ágora, praça pública existente em todas cidades gregas. Aristófanes faz, nessa peça, uma crítica das diferenças existentes entre homens e mulheres em relação ao direito de participação no processo político. Percebe-se essa situação de submissão e reclusão em que se encontravam as mulheres atenienses, na seguinte passagem de um discurso da Valentina: “Elas [as mulheres] cozinham como antigamente, fazem bolo como antigamente, amolam os maridos como antigamente”. Aristófanes põe, como centro de sua narrativa, um grupo de mulheres que resolvem tomar o poder político dos homens, por considerarem que estes não administram a polis em benefício da sociedade. Valentina, por exemplo, em seu discurso, afirma: “(...) não posso deixar de afligir-me ao ver o estado de decomposição em que se encontra a administração do país. Vejo-o sempre entregue a maus dirigentes”. Contrariadas com tal quadro, as mulheres fazem com que o poder político seja entregue a elas. Crêem que uma administração feminina iria resolver os problemas existentes, pois as mulheres “são um prodígio de bom senso; não processam ninguém, não falam mal da vida alheia, não entram em golpes contra a democracia (...)”. Elas buscam, com a revolução, mudar o quadro de insatisfação existente, tentando construir uma sociedade mais justa e igualitária. Todos teriam de entregar os bens para o governo para que fosse criado um fundo comum. Assim, quando uma pessoa estivesse necessitando de algo, iria ao fundo comum, onde receberia o bem de que estava precisando. Pode-se perceber esse ideal de igualdade na seguinte passagem: “(...) todos terão de entregar seus bens ao governo, para que todos tenham partes iguais desses bens e vivam deles (...) Instituiremos uma só maneira de viver, igual para todos!”. Porém, continua sendo escravista, como se pode constatar na fala da protagonista Valentina, quando ela é indagada sobre quem cultivará a terra: “Os escravos”.
Esta continuava não representando uma democracia na acepção no sentido da palavra, ou seja, um governo de todos, democracia significa governo do povo e não em nome do povo. Quando Valentina afirmasse: “Não adianta discutir. A maioria decidiu”, essa maioria não representava a maioria de todos os habitantes da polis.
O que se almejava era apenas a participação política das mulheres, não havendo transformações na estrutura social, uma vez que continua existindo desigualdade entre as pessoas. Na verdade, ocorre apenas uma transferência de papéis dos homens para as mulheres. Assim, como as mulheres continuam inseridas no mesmo sistema social, acabam agindo de forma semelhante aos homens, tendo atitudes autoritárias e arbitrárias. Pode-se perceber tal situação quando Valentina abusa de sua autoridade de chefa para ficar com o rapaz, ao final da peça, afirmando “Venha comigo! Resolvi o seu caso, agora você vai resolver o meu! Afinal de contas, eu não ia fazer essa revolução para aprontar a cama para outras deitarem!”. Vale a pena ressaltar que o texto reafirma a idéia de que as pessoas somente cumprem as leis quando é conveniente para elas ou, em outros casos, tentam contorná-las, buscando brechas nelas. Tal postura é evidente em alguns personagens, como o homem que não queria doar seus bens para o fundo comum, mas queria saborear o banquete servido na praça pública, bem como o rapaz que aproveitara o jantar público, mas não queria obedecer a lei que dizia que ele deveria satisfazer uma mulher mais velha antes de uma mais jovem. O abuso do poder também é bordado nessa obra. Inicialmente, os homens são os acusados de tal atitude. No entanto, ao final da história, Valentina toma uma decisão arbitrária, abusa do poder, mostrando-se corrompida por ele.
Aristófanes, além de provocar risos na platéia, visava também conscientizar as massas acerca desses temas. Queria, sobretudo, provocar discussões filosóficas e políticas.

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