quarta-feira, 13 de abril de 2011

SANTANA, Ana Carolina da Silva.; LIMA, Andressa Adna de.; ARAÚJO, Felipe Tavares de. Paulicéia Silenciada: Considerações sobre São Paulo e pobreza da transação do século XIX para o XX. Departamento de História. 2008. 10p.

Na Paulicéia do final do século XIX e início do século XX, há uma explosão demográfica justificada pela entrada no país de diversos imigrantes. Estes, geralmente de origem européia e em especial italiana, escolheram diversos Estados do país para se fixar, bem como diversas cidades. Contudo, a urbe Paulistana de 1890 a 1915 mostrou-se como destino preferido por esses sujeitos sociais. Os trabalhadores italianos foram os mais numerosos na região e foram vistos na época como a expressão da civilização chegando ao Brasil. À mesma época, São Paulo passava por um período de modernização que buscava trazer para a cidade os padrões europeus de vivência e trabalho. Nesse período, os habitantes da localidade passaram por um processo de reeducação das suas práticas sociais, em que transformavam as suas maneiras de se relacionar com a cidade. Assim, percebemos na fala do período a exaltação dos trabalhadores italianos, como organizadores de sindicatos, greves e por diversas melhorias dos direitos da classe. Contudo, há um silêncio nas visões da época e também um silêncio historiográfico em relação aos modos de vida e trabalho dos nacionais pobres, que tiveram de reinventar sua atuação no espaço da cidade para manter a sua subsistência. Esse silêncio produziu a memória de que tudo era italiano. Assim, essa pesquisa buscará quais foram as táticas de sobrevivência dos nacionais pobres e como interagiram dialeticamente com o processo de modernização, procurando fazer da memória construída o  objeto de estudo dessa pesquisa.
O trabalho presente se propõe a discutir como na transição do Império para a República, numa época de consolidação dos ideais modernos baseados num modelo europeu e que a sociedade buscava rótulos classificatórios, sobreviveram os “marginalizados nacionais”. Essas personagens tratam-se de ex-escravos, escravos já alforriados, descendentes de ex-escravos que após a abolição da escravatura adentraram a cidade de São Paulo em busca de condições para gerirem sua própria sobrevivência e lá encontraram uma cidade que desejava ser moderna aos moldes europeus com uma identidade una e que por outro lado tentava se esquivar do seu passado anterior, conseqüentemente dessa massa negra liberta. As autoras analisam os silêncios da historiografia quanto aos marginais nacionais no período de 1890 a 1915, percebendo o desejo modernizante das autoridades por meio das estratégias utilizadas para implantar a modernização, além de compreender a São Paulo da transição do século XIX para o século XX, bem como as formas de vivências dos imigrantes e marginalizados nacionais da São Paulo. Expõem a composição do operariado, salientando quem eram, e demonstrando o papel do imigrante italiano e dos outros. Simultaneamente, evidenciando os marginalizados nacionais quanto ao seu papel de trabalhador (onde estão, o que fazem), e quais as permanências silenciadas pelo discurso.

Santos, Carlos José Ferreira dos – Nem tudo era italiano: São Paulo e pobreza: 1890-1915. 3° edição- São Paulo: Annablume/Fapesp, 2008, 196p.

Para além da crítica a uma visão elitista e triunfalista da história da vida urbana, a identificação da presença desses pobres nacionais como pretos, pardos, mestiços, caipiras, caboclos, preto velhos, “lavadeiras briguentas” em sua maioria ex-escravas, amas-de-leite, carroceiros impertinentes; o realce dado à força alternativa de suas práticas culturais, as ervas e benzeduras, os modos de trabalho, as tradições culinárias, as danças e as festas, nos propõe uma São Paulo onde nem tudo era italiano.
O autor desenvolve uma análise histórica e política criteriosa das fontes. Procura perceber e discutir a presença da população pobre não estrangeira na cidade de São Paulo durante a virada do século. Contribuiu para a compreensão dos processos de exclusão, ontem e hoje, iluminando silêncios da historiografia sobre as temáticas da cidade e do trabalho no período.
O livro é divido em três partes. O Capítulo I do livro – Os Elementos Indiscutíveis de Nosso Progresso – desenvolve-se com recuperação crítica do projeto modernizante e de branqueamento para a cidade que se quer metrópole. Utiliza-se do método socioeconômico; estatísticas. O autor faz observações sobre as mudanças; social e urbana na Paulicéia para dimensionar os modos de compreensão acerca da presença da parcela nacional pobre da população, bem como traços das maneiras pelas quais seus diferentes sujeitos históricos experimentaram e interagiram com as transformações. No Capitulo II – Em Busca da Presença dos Nacionais Pobres – o autor discuti acerca a busca pela criação, em termos arquitetônico e populacional, de uma hipotética civilização moderna, branca e europeizada, tentando esconder, ou destruir os vestígios de uma suposta “barbárie” relacionada à população nacional pobre. “Buscando perceber a presença dos nacionais neste processo, é possível surpreender duas situações: a primeira é uma quase silêncio sobre os despossuídos dessa parcela da população e a segunda um discurso desmerecendo e excluindo seus modos de vida em determinados lugares do perímetro urbano municipal.” No Capítulo III – Serviços de Negros: Na Cadência de Modas Indígenas e Africanas –, transitando entre a crítica ao discurso da desqualificação dos “serviços de negros” e a descoberta da natureza subversiva e inventiva das formas de sobrevivência e práticas culturais dos nacionais pobres, o autor Carlos Jose Ferreira dos Santos nos remete a ofícios, biscates e ocupações casuais e temporárias. Deparamos com carroceiros autônomos, que eram responsáveis por parte significativa do movimento de circulação de mercadorias na cidade e que, em seus percursos, criava extensas redes de comunicação no território urbano.  Ganham visibilidade os ofícios pouco considerados dos coletores de lixo, lavadores de casa, cavoqueiros, limpadores de trilho, quitandeiras e etc. Escondido em poucas falas e imagens, está à mostra empregados e empregadas domésticas: as amas de leite, as cozinheiras, as criadas, os copeiros.   

PEREGALLI, Enrique. A América que os europeus encontraram. Campinas/ São Paulo: Editora da Unicamp/ Atual, 1986, PP.7-9

     O autor faz reflexão de alguns questionamentos atuais que fazemos quando analisamos do por que o norte da América se desenvolveu mais potencialmente do que o sul? Por que as regiões que antes eram mais “pobres” são hoje as mais “poderosamente”?
     Segundo Enrique Pregalli; “A ideologia colonialista resolveu aparentemente o problema, remetendo-o ao estigma da inferioridade racial do índio americano e do negro escravo (...) e outras teorias tanto quanto exóticas. Essas teorias têm em comum a idéia que houve necessidade do homem branco europeu na América para penetrar na história dos povos civilizados e apontam que a felicidade está relacionada à aproximação com o modelo capitalista.
     A ciência moderna tem sido incapaz de justificar a suposta inferioridade americana, ou ainda de demonstrar pelo víeis geográfico que é determinante para o desenvolvimento econômico.
     A história demonstra que o desenvolvimento de uns está condicionado ao subdesenvolvimento de outros e para tanto a América deveria seguir os passos de sua enveredada Europa; evoluir das comunidades primitivas para o escravismo e o feudalismo, como etapas prévias ao capitalismo.

sábado, 9 de abril de 2011

Fenômenos sociais e suas mudanças? Qual é a razão que faz com que os homens considerem justo e aceitável o que em outras épocas foi tomado como inadmissível.

O comportamento humano se caracteriza pelas mudanças, inclusive mudança de valores, apesar de sua grande resistência ao “novo”, porem uma vez deparando-se com a necessidade de adaptar-se, adéqua-se e aceita o novo contexto, diferentemente fazem os animais irracionais. Fenômenos sociais são o que podemos chamar de mudança de mentalidade. Ora é bom, ora é ruim, ora é permitido, ora proibido, esse ser humano mutável tem por conseqüência, comportamentos diversos.
Para o senso comum há uma aproximação quase que dessociável entre a moral e a religião. O termo moral às vezes se confundem com a religiosidade, pois ambas caracterizam o de bem e mal.
Em relação a nossa formação ocidental, cristianizados, temos a crença de um ser espiritual superior- Deus, que deve ser obedecido suas vontades suprema, as nossas devem estar sujeitas a Dele. A história dá exemplo de um período que houve esse equivoco e suas conseqüências. Na Idade Média as concepções e orientações ética e moralista estavam fortemente ligada a opinião da Igreja que detinha poder; econômico, político e moral. A religiosidade está presente em nossos ambientes públicos como cartórios civis, parlamento, a presença de símbolos religiosos como a cruz e cristo. Quando a religião substitui a moral na sociedade, há um grande equivoco, pois a moral é laica. A nossa ética e moral é regida até hoje por concepções religiosas.

ABORTO X ÉTICA

Abortamento; segundo uma definição obstétrica, a perda da gravidez antes que o embrião e posterior feto seja potencialmente capaz de vida independente da mãe. O processo é também chamado aborto, embora em termos científicos esta palavra designe o resultado da ação.
No Brasil, está legalizado em determinados casos: se não houver outro meio de salvar a vida da gestante, se a gravidez resultar de estupro e a futura mãe desejar interrompê-la, os médicos poderão praticar um aborto sem serem punidos (artigo 128 do Código Penal). Fora esses dois casos trata-se de um crime previsto por lei, e nisso está incluído o abortamento voluntário.
O aborto é um tema analisado pelo campo da ética e tem gerado várias opiniões.
Há os que se posicionam de maneira contrária como há os que são favoráveis à interrupção da gravidez. Para alguns; o fato de a mulher ser obrigada perante a lei, a Igreja e os valores morais e éticos, a ter um filho quando esse já está sendo gerado, mesmo que ela saiba que talvez não tenha condições financeiras e/ou psíquicas de educar uma criança nesse período, é traços da desumanização da mulher como tem denotado a história desde os primórdios, a mulher sempre sendo inferiorizada, sendo culturalmente educada para se casar e ter filhos, como objetivo máximo a ser alcançado. Outros; opinam e dão seu ponto de vista, geralmente, permeadas por influências religiosas.
Aqueles que são contra o aborto reclamam o direito à vida. Há ainda toda uma discussão em relação a quando a vida tem seu início. Há os que defendem certo número de semanas de gestação para que haja vida. Outros dizem que a vida existe desde a concepção.
E o debate é interminável. Também sabemos que o aborto em nosso país é considerado crime. E está tipificado em nosso Código Penal na parte dos crimes contra a vida. Inclusive tal crime é levado a júri popular. Legalizar o aborto pode torná-lo juridicamente lícito, mas será tal procedimento ético? Será que no foro íntimo de cada mulher que aborta haverá uma justificativa que não seja puramente jurídica? Como lidar com a consciência e saber se o que fizemos é certo ou errado? Ou seja, como decidir se posso ou não fazer um aborto e quais as implicações éticas em relação a ele.
Muitos autores confundem ética com moral. Diria que confundir ética com moral é algo um tanto tosco. A ética e a moral não se confundem, a primeira engloba a segunda, a segunda é apenas um dos aspectos da primeira. Etimologicamente ética vem do grego Ethos. Ethos é o gênero de duas espécies: Êthos e Éthos. Êthos significa a morada do ser, o jeito de ser, o modo de ser no mundo, a individualidade do ser humano. Éthos significa usos e costumes, modos de agir conforme o tempo e a cultura, a moral estabelecida em função do contexto histórico e da sociedade. Moral (mores) do latim. A diferença entre os dois aspectos que formam o conjunto daquilo que se pode chamar de ética é bem sensível. Para que uma atitude seja considerada ética ela deve conter estes dois aspectos, ou seja, que seja aceita como valor assumido de uma sociedade e ao mesmo tempo respeite a individualidade do sujeito que se torna objeto de uma ação.
Tomado desta forma, um aborto pode ser legal e até moral, mas nunca será ético. A lei do país pode deixar de considerar o aborto como crime e até a sociedade pode considerá-lo aceitável, mas nunca ético. O fato de haver uma aceitação por parte da sociedade e de ser juridicamente possível somente torna o aborto aceitável do ponto de vista moral. No aspecto ético, a individualidade do nascituro é desrespeitada.
Há uma definição para a palavra ética em grego que expressa bem essa idéia. Ética; agir de acordo com os interesses da “polis” (cidade). Nesse sentido, a ética tem a finalidade de estabelecer um sentimento de “bem comum”. A ética do aborto está construída segundo a história de vida do indivíduo. No entanto, estará sempre impregnada de uma visão social, internalizada desde a infância. São estruturas de pensamento aprendidas já na escola e que de acordo com Pascal apud Morin, acabam comandando o nosso discurso inconscientemente.
Ao proibirem o abortamento, acabam induzindo milhares de mulheres a recorrerem á clínicas clandestinas privadas, onde muitas vezes são submetidas a métodos anti-higiênicos. Algumas morrem e grande parte delas chegam de urgência aos hospitais. A questão é que em um momento de desespero, frente à uma mudança brusca do ritmo de vida, pretensões futuras ou dificuldades financeiras, independente da lei, da ética ou do que quer que seja, grande parte das mulheres acabam pensando em abortar e muitas só não o realizam por medo de que a finalização da gravidez não seja efetivada de maneira concreta podendo causar ainda um filho com problemas físicos e/ou mentais.
Sendo assim, fica evidenciado a meu ver, que àqueles que lutam pelo direito à vida do embrião, acabam por negar a existência dos direitos humanos adquiridos pela mulher muito antes da existência do feto. Feto este que só teria uma vida digna e justa se tivesse um investimento bio-psiquico por parte dos pais, caso contrário, seria injusto tanto com a criança quanto com a sociedade, dispor de mais um ser humano sem condições suficientes de sobrevivência. A ética vem nesse sentido auxiliando o entendimento da questão e propondo diversos argumentos lógicos nesse sentido. A legalização do abortamento simplesmente daria o direito a cada um escolher o que é melhor para si, ao contrário de uma imposição de lei que possa causar grandes transtornos no futuro, tanto para a mãe, quanto para a criança.