quarta-feira, 13 de abril de 2011

Santos, Carlos José Ferreira dos – Nem tudo era italiano: São Paulo e pobreza: 1890-1915. 3° edição- São Paulo: Annablume/Fapesp, 2008, 196p.

Para além da crítica a uma visão elitista e triunfalista da história da vida urbana, a identificação da presença desses pobres nacionais como pretos, pardos, mestiços, caipiras, caboclos, preto velhos, “lavadeiras briguentas” em sua maioria ex-escravas, amas-de-leite, carroceiros impertinentes; o realce dado à força alternativa de suas práticas culturais, as ervas e benzeduras, os modos de trabalho, as tradições culinárias, as danças e as festas, nos propõe uma São Paulo onde nem tudo era italiano.
O autor desenvolve uma análise histórica e política criteriosa das fontes. Procura perceber e discutir a presença da população pobre não estrangeira na cidade de São Paulo durante a virada do século. Contribuiu para a compreensão dos processos de exclusão, ontem e hoje, iluminando silêncios da historiografia sobre as temáticas da cidade e do trabalho no período.
O livro é divido em três partes. O Capítulo I do livro – Os Elementos Indiscutíveis de Nosso Progresso – desenvolve-se com recuperação crítica do projeto modernizante e de branqueamento para a cidade que se quer metrópole. Utiliza-se do método socioeconômico; estatísticas. O autor faz observações sobre as mudanças; social e urbana na Paulicéia para dimensionar os modos de compreensão acerca da presença da parcela nacional pobre da população, bem como traços das maneiras pelas quais seus diferentes sujeitos históricos experimentaram e interagiram com as transformações. No Capitulo II – Em Busca da Presença dos Nacionais Pobres – o autor discuti acerca a busca pela criação, em termos arquitetônico e populacional, de uma hipotética civilização moderna, branca e europeizada, tentando esconder, ou destruir os vestígios de uma suposta “barbárie” relacionada à população nacional pobre. “Buscando perceber a presença dos nacionais neste processo, é possível surpreender duas situações: a primeira é uma quase silêncio sobre os despossuídos dessa parcela da população e a segunda um discurso desmerecendo e excluindo seus modos de vida em determinados lugares do perímetro urbano municipal.” No Capítulo III – Serviços de Negros: Na Cadência de Modas Indígenas e Africanas –, transitando entre a crítica ao discurso da desqualificação dos “serviços de negros” e a descoberta da natureza subversiva e inventiva das formas de sobrevivência e práticas culturais dos nacionais pobres, o autor Carlos Jose Ferreira dos Santos nos remete a ofícios, biscates e ocupações casuais e temporárias. Deparamos com carroceiros autônomos, que eram responsáveis por parte significativa do movimento de circulação de mercadorias na cidade e que, em seus percursos, criava extensas redes de comunicação no território urbano.  Ganham visibilidade os ofícios pouco considerados dos coletores de lixo, lavadores de casa, cavoqueiros, limpadores de trilho, quitandeiras e etc. Escondido em poucas falas e imagens, está à mostra empregados e empregadas domésticas: as amas de leite, as cozinheiras, as criadas, os copeiros.   

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